"A personagem Lena do filme PEQUENOS DESENCONTROS foi um grato presente em minha vida, desejava muito fazer um filme, e pedi isto fortemente aos céus. No mesmo dia lá estava em meu e-mail o convite para o teste... Sabia que era para mim. Deixei a emoção conduzir-me sutilmente. Tive o privilégio de reencontrar na equipe Mônica Siedler, com quem cursei algumas disciplinas na faculdade de Teatro, e sendo assim a preparação de atores aconteceu num clima de amizade e troca constante. Mergulhei no universo de Lena, uma mulher do meio rural insatisfeita com sua vida. Eu vivo no campo e transpor esta experiência para cena foi inevitável. Lena é o único personagem do filme que tem nome. Fernando Bopprè a descreve como uma 'histérica clássica', e diz que o marido 'poderia comprar a Rússia inteira para ela que, mesmo assim, não haveria contentamento ou felicidade.' Para mim Lena não quer ser mais uma, ela não é 'a mulher do interior', ela não é ' a esposa', ela tem nome! E em meio a sua insatisfação sonha não com a Rússia inteira ou com o mundo... Lena deseja a poesia que se perdeu na relação cotidiana do casamento. Ela tem personalidade! Lena me fez repensar o quanto vivemos num mundo em que as frustrações tentam dia após dia ser dissimuladas pelo consumismo desenfreado. Desabei no choro ao término da cena em que Lena diz ao marido 'Faça alguma coisa antes que seja realmente o fim.'
Vivemos num mundo tecnológico e isto não impede que sigamos nos desencontrando. O fim de Lena é triste e me deixa com os olhos rasos de água sempre que o trago à memória. Quantas Lenas cheias de personalidade existem que acabam sufocadas pelos presentes das lojas de magazine, que deixam de viver seu sonho em prol do sonho do marido?
O Fernando teve uma sensibilidade impressionante para dirigir e segundo meu ponto de vista possui tato para conduzir os atores. Atuar ao lado de Nei Pelizzon e de Édio Nunes foi um aprendizado constante, ambos atores de grande profissionalismo. Julia Amaral e Gabriela Aquino foram umas irmãs ao longo de toda a filmagem, incansavelmente preocupadas com os detalhes. As únicas palavras que me vem para descrever esta rica experiência é que foi um um GRANDE ENCONTRO! Vida longa, e um caminho brilhante a este filme... e que muitos sejam os degraus a serem trilhados por este!
Para terminar parafraseio Breson: que diz que 'Criar não é deformar pessoas e coisas. É estabelecer entre pessoas e coisas que existem e tais como elas existem, novas relações.' "
O ator Nei Pellizzon ao lado de Luciá Tavares durante as filmagens 