Meyerhold( 1874-1940)
Criador da Biomecânica Teatral
Gennadi Bogdanov ministrante do curso e seguidor direto da técnica
da Biomecânica Teatral de Meyerhold
Participar de um curso com este ícone vivo da arte teatral era há tempos um desejo acalentado pela atriz que nas linhas abaixo conta-nos um pouco desta experiência e fala sobre a importância da Biomecânica para o trabalho actorial. Luciáh conta-nos que sempre gostou do trabalho físico do ator e que um dos primeiros espetáculos que participou "Crônica de um Brasil com Z", uma co produção do Grupo Z e do Grupo Casa de Brinquedos, Pelotas/RS, era apoiado na exaustão e no trabalho físico dos atores. E diz que:
"Naquela época eu não conhecia nada de técnicas teatrais. Ouvi falar de Meyerhold pela primeira vez quando assisti um espetáculo argentino no extinto Festival de Teatro de Pelotas/RS, em meados da década de noventa: 'Juan Moreira'. Fiquei chocada como os atores se moviam pela cena e como comunicavam praticamente sem o uso de palavras."
Completa que só soube mesmo quem era Meyerhold no Rio de Janeiro, na universidade quando cursava a disciplina de expressão corporal 3 na Escola de Teatro da UNIRIO, com a Professora Nara Kaisermann, isto em 2005. E segundo ela foi a partir deste momento que começou a pesquisar sobre Meyerhold através da internet e ficou sabendo do Centro internacional de biomecânica teatral, do mestre Gennadi Bogdanov, do Microteatro de Perugia, e das suas sessões de trabalho semestrais de biomecânica teatral.
"Passei a receber desde esta esta época em meu e-mail convites para fazer o curso e fui acalentando em meu íntimo uma forma de tornar este sonho realidade."
A atriz Luciáh Tavares
(embaixo a quarta da esquerda para direita) junto aos colegas de curso
e ao Mestre Russo Gennadi Bogdanov
Segundo a atriz a Biomecânica consiste no treinamento físico do ator e é difícil precisá-la sem vivenciá-la.
"Eu poderia ficar aqui horas e horas falando sobre esta técnica, mas seria uma perda de tempo, pois para entender de fato é preciso vivenciá-la. Inclusive eu diante de tudo que havia lido e pesquisado me surpreendi, não apenas com a técnica em si, mas como é possível através de um treinamento constante superar limites físicos. Como nos ensinou o próprio Bogdanov não significa apenas uma técnica que acaba com o fim do curso mas como uma perspectiva, um impulso para descobrirmos sobre que coisa devemos trabalhar, quais limites que para exercer o ofício do ator devemos superar fisicamente."
Diz que sempre que se fala de interpretação vem ao pensamento os métodos de interpretação de texto e que é fácil cair no pecado de esquecer que o corpo é o instrumento de trabalho do ator. E completa:
" Um músico ensaia incessantemente sobre seu instrumento descobrindo como tirar a melhor nota, na biomecânica o ator trabalha a exaustão na descoberta e domínio de seu corpo."
O mestre russo Gennadi Bogdanov e a atriz Luciáh Tavares
única brasileira participante do curso neste semestre.
Referente a esta vivência ela nos diz que antes de qualquer coisa foi uma experiência indescritível!
"E por mais que eu fale serão apenas palavras."
E explica que a biomecânica
"não está calcada em palavras mas em ação, em treinamento."
E diz que foi uma imersão que aconteceu de 12 dias, as lições de 5 horas ao dia, com 68 horas de carga horária.
"Muitos pontos devíamos aperfeiçoar no intervalo até a lição do dia seguinte para buscar a superação."
Victoria DeCampora ( atriz de Nápoles), Alessandra Nale (atriz de Milão),
Luciáh Tavares(única brasileira desta sessão de trabalho)e Marta Franceschelli ( atriz de Roma)
durante uma das folgas da lição exercitando o equilíbrio.
O curso contou com alunos dos quatro cantos do mundo. E para ela nada define melhor a experiência em questão que a palavra: INTENSIDADE.
" Doze dias que valeram por anos de trabalho. Sem falar que ao nos deparamos com pessoas de teatro de outras partes do mundo, que também estão buscando o aperfeiçoamento, o número de informações amplia-se também na observação de como cada um assimila e digere aquele processo. Tudo torna-se extremamente enriquecedor, até mesmo os breves intervalos de aula e as conversas durante a janta. Cada momento transforma-se numa análise de observação do corpo dos demais e da maneira como a técnica reverbera nas pessoas. O mundo passa a ser analisado pela ótica da biomecânica teatral."
Comenta que ao observar a si mesma e aos outros ganha uma outra dimensão. Só lamenta que " tenha sido tão breve!" E aconselha a todo ator que tiver a oportunidade para viver esta experiência e de entrar em contato com esta técnica buscar meios para fazer este curso.
A atriz com Claudio Mássimo Paternò diretor do Microteatro de Perugia da Itália e um dos principais referencias e seguidores da técnica da Biomecânica Teatral de Meyerhold no mundo.
"O ator que quiser sua arte viva precisa ter um treinamento. Adoraria ter entrado em contato com esta técnica há 15 anos atrás. Mas tudo tem seu momento!"
Ao perguntarmos se fazia parte de seus sonhos fazer um curso de teatro com um russo, já que a base dos métodos de interpretação estão diretamente calcadas nos mestres russos ela nos diz que "Se eu disser que não estaria mentindo! (risos) Sempre fui fascinada pela cultura russa e pela cultura italiana. Fazer este curso na Itália foi unir o útil ao agradável."
E confessa que na arte teatral sempre sonhou em ter contato direto com algum maestro ligado direto a história do teatro. No teatro brasileiro teve o privilégio de ter um contato direto com Paulo Autran (1922-2007) que faz parte da história do teatro de nosso país como um dos principais atores de sua história. E conta-nos que até mesmo iniciou a estudar o idioma russo com desejo de um dia ter a oportunidade de estudar diretamente com algum mestre russo do teatro.
A atriz em Perugia na Itália cidade onde aconteceu o curso.
Ao falar o que mais lhe atraiu nesta técnica, que fez que fosse atrás de buscar esta formação, explica que o fato de que Meyerhold pesquisava as companhias de rua, a commedia dell'arte o teatro feito nos cabarés. E de usar o teatro como forma de politização de tirar o público de sua alienação. Foram alguns dos pontos que mais lhe instigaram. E que vê pontos de contato da forma como cria e executa seus projetos com a forma como Meyerhold trabalhava.
"Há muito tempo que meus projetos não alcançam as principais salas de espetáculo. Eu tenho levado teatro a comunidades rurais e trabalhado junto as periferias e pessoas que estão a margem da sociedade no que tange a arte teatral. E busco um teatro que chegue de forma mais incisiva ao público. Acho que tenho feito um pouco o que Meyerhold buscava, e vejo pontos de contato entre a minha arte e a dele neste aspecto. E por isto fui atraída pelo desejo de conhecer de maneira mais estreita esta técnica."
Arremata com uma comparação perfeita da busca do ator para sua técnica com a busca do ser humano:
"Tudo que busco é para aperfeiçoar meu trabalho de atriz e consequentemente me fazer um ser humano melhor, eu acredito de verdade que ninguém pode ser melhor se não amar o que faz, se não desejar ser melhor dia após, se não desejar melhorar seu mundo e o meio que o cerca com o que faz, e para isto precisamos sim fazer nosso ofício sem formalismos e dar o melhor de nós no contato com os outros. O teatro é uma arte para o outro, para o público. E o ator não pode jamais ser egoísta e ..."
E completa com as palavras do Mestre Russo Gennadi Nikolaevic Bogdanov que:
"...deve fazer tudo com tanto entusiasmo."
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http://www.ecult.com.br/noticias/quem-tem-boca-vai-a-roma-peripecias-de-uma-atriz-pelotense-na-italia
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A ida de Luciáh Tavares a Itália aconteceu através do
Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura
A ida de Luciáh Tavares a Itália aconteceu através do
Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura
Luciáh Tavares irá ministrar workshops em Pelotas/RS, Florianópolis/SC e Biguaçu/SC .
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ONDE FAÇO O CURSO NO BRASIL?
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